sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Pequena e despretensiosa cronologia dos quadrinhos – parte 1

O Garatuja sempre incluiu a história em quadrinhos nas atividades voltadas a jovens e crianças. Primeiro pelo interesse de seu fundador. Depois pelo interesse dos próprios alunos. Nos quadrinhos temos a oportunidade única de trabalhar aspectos do conhecimento humano que vão muito além da expressão gráfica, nosso principal foco: Inclui a linguagem escrita; a história; geografia, sociologia e o que mais surgir em seu processo de elaboração. Outra qualidade é disciplinar de maneira bastante eficiente o fazer artístico - sua realização só acontece com divisão de etapas e tarefas. Nesse projeto a história em quadrinhos contará com workshop, residência artística, exposição de gibis antigos, filmes comentados, oficinas práticas, produção de gibi e visita a gráfica. A cronologia aqui presente procura oferecer um apanhado de seu desenvolvimento linear no contexto social e histórico, a fim de situar os oficineiros iniciantes. Sua história é muito mais rica e complexa que as informações aqui postadas.

Primórdios – Até 1820
“Se numa pintura rupestre temos uma cena de caça, isso representa a ilustração de um momento. Se mais adiante, porém, temos o animal já morto ou sendo comido, isso representa uma ação sequencial, e já estamos nos aproximando do tipo de recurso dos quadrinhos”.




















Pela frase acima fica claro que a intensão de representar uma ação de forma gráfica vem do inicio da humanidade, mas para chegar a narrativa quadrinizada tivemos um longo processo histórico de desenvolvimento e acumulo de conhecimentos. Basicamente as histórias em quadrinhos compreendem duas expressões distintas: o desenho e a escrita, embora haja história em quadrinhos sem a escrita. Estas são as primeiras invenções, os primórdios da linguagem:

Escrita










Cuneiforme (do latim cuneos=cunhas)  Local: Mesopotâmia Origem: Sumérios Data: 3.500 a.C. Documento mais importante: Código de Hamurabi. Possui 282 artigos de leis sobre economia, política, religião e família.

Hieróglifos (do grego hieroglyphos=escrita sagrada)  Local: Egito / Origem: EgípciosData: 3.200 a.C.Fato  importante: Em 1822, os hierógrifos foram decifrados pelo francês Champolliom. Mais tarde os hieróglifos foram simplificados originando duas escritas: Hierática - Ligada às questões religiosas e do poder e Demótica - de caráter popular.

Ideogramas (figuras estilizadas/símbolos) Local: China / Origem: Chineses Data: 3.200 a.C. Os ideogramas chineses serviram de base para outros sistemas de escrita de idiomas distintos, como o coreano e o japonês entre outros. No Japão, os ideogramas chineses foram simplificados para 50 caractéres,
originando o hiragana. Paralelo ao hiragana foi desenvolvido o katakana, que originou um tipo de letra impressa.

Alfabeto - Representação de sons que formam palavras. Local: Atual território do Líbano parte da Síria. Origem: Fenícios. Data: séculos XII a C. a.C.Obs: De início adotavam o escrita cuneiforme, mas acabaram modificando completamente. Desenvolveram sinais que, em vez de indicar ideias completas representavam sons que, unidos, formavam as palavras. Aproveitando os símbolos fenícios, os gregos acrescentaram as vogais e formaram seu alfabeto. Depois foi a vez dos romanos simplificarem o alfabeto grego-fenício, dando origem ao alfabeto latino que utilizamos.

Papiros, pergaminhos e papeis 
Papiro
Os mesopotâmios usavam tabuletas de argila ou gravavam suas inscrições em pedras. Por volta de 3.500 a.C. os egípcios criaram o papiro. Espécie de papel obtido de um arbusto que crescia junto as margens do rio Nilo. Paralelo a criação do pergaminho, os chineses desenvolvem outro processo, utilizando-se principalmente das fibras de bambu fabricando o papel. Somente nove séculos depois o resto do mundo tomou conhecimento do material. No século XIV, já era conhecido em toda Europa ocidental, substituindo o pergaminho no século seguinte. O uso do papel facilitou muito a transmissão do conhecimento humano, mas demorou bastante até que a literatura se popularizasse, pois sua fabricação ainda era de maneira artesanal, portanto caro e escasso.

Xilogravura e xilografia


















Embora o homem tenha aprendido a gravar sobre pedra ou madeira desde a Antiguidade, demorou muito tempo para conseguir cópias daquilo que gravava. A xilogravura (do grego xilon-madeira) surgiu na China no século VI e provavelmente foi o primeiro processo utilizado, entretanto somente no fim do século XVI tornou-se conhecida na Europa. Foi utilizada principalmente para a reprodução de motivos religiosos. As figuras sagras, muitas vezes coloridas a mão, fizeram muito sucesso por toda Europa. Pouco a pouco, a ilustração foi cedendo espaços aos textos, possibilitando no final do século XV a reprodução de livros. Era a xilografia, que como o próprio nome sugere, correspondia à gravação da escrita pelo mesmo processo da xilogravura. A xilogravura e a xilografia foram largamente utilizadas a partir do século XVI, mas ainda tinham enormes limitações, como o custo e dificuldade de realização. As matrizes não podiam ser reaproveitadas, além de serem muito frágeis. Por essa época surgia a gravação sobre metal. Essa possibilidade, aliado aos processos anteriores abriram o caminho que levaria à impressão.

A prensa
Prensa de Gutenberg
A solução para o problema de transcrever textos veio da China. Pi Ching, em 1041, talhou blocos de argila em forma de sinais, fixou-os em suporte e compôs uma página. Esse conjunto, molhado com tinta e pressionado sobre o papel, realizava a impressão. A página era desmontável, e os mesmos blocos podiam ser reorganizados em outra disposição, formando nova página. Surgiram, assim, os chamados tipos móveis. Nos dois séculos seguintes, turcos e mongóis seguiram a mesma trilha. Os caracteres de argila não tinham durabilidade e foram substituídos por madeira. Melhorou, mas ainda não era o ideal. Dizem que os caracteres de metal surgiram na Coréa, antes de 1450, no entanto, ela é creditada ao alemão Johann Gutenberg, que desenvolveu esse processo entre 1440 e 1450, e fabricou a primeira máquina de imprimir, a prensa. Aí começa a história da imprensa.

Outros fatores
Tábua Protat - Os balões que caracterizam boa parte das HQ têm seus antecessores mais remotos num pedaço de madeira gravada em 1370, a tábua Protat, na qual um centurião romano, diante do Calvário, levanta um dedo em direção a cruz e diz: Vere filius Dei erat iste (Sim, na verdade este homem era o Filho de Deus). De sua boca sai um filactério, contendo a mensagem que desejava transmitir. Alguns estudiosos veem nesse filactério um precursor dos balões das HQ.

Filactérios - Originalmente era uma faixa que ficava amarrada no braço ou na cabeça com textos religiosos escritos, com orações que podiam ser lidas quando a faixa era desenrolada. Foram muito usados pelos primeiros cristãos e judeus. Pode até haver um eco simbólico entre a "faixa comprida com textos" e o moderno balão. Durante a Idade Média, os filactérios entraram nas artes plásticas na forma de faixas com mensagens ou orações escritas nas pinturas sacras. Geralmente, um santo ou anjo era seu portador.  Este exemplo ao lado é do ano 1240 e mostra a conversão do apóstolo Paulo. Deste momento para frente, o que ocorre é uma gradual mudança do filactério para as tentativas de encaixar textos ditos pelos personagens no desenho.



A coluna de Trajano - A Coluna de Trajano é um monumento em Roma erguido por ordem do imperador Trajano. Foi acabada em 113. O seu baixo relevo em espiral comemora as vitórias das campanhas militares contra os Dácios. A coluna tem 4 metros de diâmetro, aproximadamente 30 m de altura, e mais 8 m de pedestal, perfazendo 38 m de altura. É uma verdadeira história em quadrinhos em espiral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário